Manoel de Barros
"Que hei de fazer se de repente a manhã voltar?
Que hei de fazer?
- Dormir, talvez chorar".
A NAMORADA
Manoel de Barros
Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa
por
um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos
da goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.
(Texto extraído do livro "Tratado geral das grandezas do ínfimo",
Editora Record - Rio de Janeiro, 2001, pág. 17.)
Manoel de Barros, nasceu em Cuiabá (MT), em 19 de dezembro de 1916.
Atualmente mora em Campo Grande (MS), é advogado, fazendeiro e poeta.
Com oito anos foi para o Colégio em Campo Grande, e depois no Rio de Janeiro.
Não gostava de estudar até descobrir os livros do Padre Antonio Vieira: "A frase
para ele era mais importante que a verdade, mais importante que a sua própria fé".
Manoel descobriu que o poeta não tem compromisso com a verdade, mas com a
verossimilhança. Dez anos de internato lhe ensinaram a disciplina e os clássicos a
rebeldia da escrita.
5 Comments:
A descoberta desse poeta me mostrou que existe a possibilidade de fazer uso das palavras de uma maneira diferente daquela já usada por outros, recriando, inventando, brincando e descobrindo novas formas de se expressar.
Obrigada por me mostrar isso.
Carmem Magro
Que bom a oportunidade de conhecer outros escritores brasileiros.O texto apresentado foi muito bem escolhido. Podemos viajar através dele. Ele nos transporta a outro mundo, a nossa infância. Tempo de brincadeiras e traquinagens.
Não deixem de publicar. Estarei atento e aguardarei com ansiedade outros textos para rir e refletir, viajar e admirar.
Gostei muito desse escritor brasileiro. Ele tem um estilo diferente de fazer poesia.
Estarei esperando a publicação de outros autores.
Kaline Lobo
A poesia de Manoel de Barros, me fez lembrar os velhos tempos da adolescência, quando o amor "às escondidas" era a aventura, inventar maquinações para ver o namorado era uma rotina diária. Bons tempos aqueles ...
Dâmaris Ribeiro.
Nao conhecia o poeta Manoel de Barros, gostei da poesia. Acho que fala de uma vida muito característica dessa regiao do Brasil.
Maria Cristina
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